“PMDB expõe brigas porque é democrático”
Presidente do PMDB do Paraná e recém-nomeado chefe de gabinete da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Rodrigo Rocha Loures entrou para a linha de frente da tensa relação entre o governo Dilma Rousseff e a base aliada no Congresso Nacional. O paranaense tornou-se “escudeiro” de Michel Temer, que há 40 dias acumulou a vice-presidência com o comando da articulação política do Palácio do Planalto.
Para Rocha Loures, as subsequentes disputas internas do PMDB – principalmente entre Temer e os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha – mostram maturidade do partido. “Nós somos o maior partido do Brasil, ocupamos a segunda, terceira e quarta posições na linha sucessória presidencial. Esse é o jeito do PMDB. O PMDB expõe suas brigas porque é democrático”, disse, em entrevista concedida na quinta-feira (14), em seu gabinete no Planalto.
O que mudou, na prática, com a entrada do vice-presidente Michel Temer para o comando da articulação política do governo?
A volta ao diálogo e o retorno da maioria à base do governo, como pôde ser visto nas duas medidas provisórias sobre o ajuste fiscal votadas até agora na Câmara. A base política se reorganizou e estamos em um processo de consolidação. A tendência a partir de agora é que o governo vença as votações que mais precisa. Outra questão é a distinção de temas legislativos que são de interesse do governo e os que são de interesse do Congresso. Maioridade penal é um tema de interesse do Congresso, enquanto o ajuste fiscal é bandeira do governo.
A base realmente está unificada? Nesta semana, uma ala do PMDB no Senado agiu contra a indicação de Luiz Edson Fachin para o STF e outra, na Câmara, ajudou a derrubar o fator previdenciário, dentro da votação do ajuste fiscal.
A situação melhorou. Nós conseguimos retomar o diálogo e recuperar a iniciativa política para o governo. Como disse, não haverá interferência nesses temas de interesse do Congresso. A nossa avaliação é que a votação do ajuste fiscal está caminhando bem. PT e PMDB têm bancadas similares, entre 60 e 67 deputados, e mais de 50 de cada uma delas têm votado consistentemente a favor do governo. É um avanço para uma nova coordenação política que tem 38 dias [a entrevista foi concedida na quinta-feira passada] de trabalho. O destaque que gerou a questão do fator previdenciário partiu do PTB e não era o centro da votação. Ainda assim, o plenário se dividiu. Com relação ao professor Fachin, a tendência do Senado é aprová-lo. Pela qualidade que apresentou na sabatina, ele se consolidou. A bancada do governo vai votar a favor dele.
No caso Fachin, o principal questionador da indicação dele é justamente um peemedebista, o senador capixaba Ricardo Ferraço. Dos 17 senadores do PMDB, quantos vão realmente votar a favor da indicação no plenário?
A informação que temos é que a tendência da bancada é orientar a favor do professor Fachin. O senador Roberto Requião inclusive deu o seu testemunho pessoal a favor dessa nomeação e lidera a bancada do governo nesse sentido. É natural que o senador Ferraço tenha sua opinião pessoal. Mas, para efeito do conjunto da bancada, isso não vai pesar.
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), deixou claro nesta semana que não haverá essa orientação formal pró-Fachin.
Eu acredito que até a noite de terça-feira (26), quando está marcada a votação, essa orientação será a favor. Até lá, a situação vai se acomodar.
No dia 7 de maio, Temer e Renan Calheiros discutiram publicamente sobre o papel do PMDB articulação política do governo. Esse episódio está superado?
Sim. O presidente do Senado enviou uma carta ao vice-presidente Temer, que respondeu essa carta. São antigos companheiros, que se apreciam e militam juntos há décadas. Esse episódio pode ser percebido nos seus detalhes como uma afirmação da independência entre os poderes. O Senado e a Câmara vivem um momento de grande efetividade. O Congresso cresceu em tamanho. Essa relação de aparente desencontro das lideranças do PMDB, incluindo aí o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), só revela como é a vida interna de um partido que não foge da discussão. Nós somos o maior partido do Brasil, ocupamos a segunda, terceira e quarta posições na linha sucessória presidencial. Esse é o jeito do PMDB. O PMDB expõe suas brigas porque é democrático.
Até agora, o governo encampava muitos desses assuntos tidos como de interesse do Congresso, como a redução da maioridade penal, e tentava impor uma visão do PT. Mudar essa lógica é a principal imposição de Temer?
Essa é uma das dimensões. Mas o maior é o diálogo. Cada partido da base aliada precisa ser ouvido. Se nós não fizermos isso, não estaremos dando voz para os atos de governo que precisam do Congresso.
Falando como presidente do PMDB do Paraná, existe uma polêmica sobre a participação de um setor do partido no governo Beto Richa (PSDB). Qual é a sua avaliação sobre o futuro do partido no estado?
Nós já deliberamos unanimemente sobre isso. Os peemedebistas que têm cargo de direção partidária ganharam um prazo de 30 dias para decidir se continuam no partido ou no governo Richa. O PSDB é hoje o partido ao qual fazemos críticas, oposição. A base partidária está se preparando muito para as eleições municipais do ano que vem. A população paranaense tem trazido para nós um nível de demanda muito elevada. Há uma irritação muito grande com a forma como a política tem sido feita. O PMDB do Paraná será central nas eleições de 2016. Nós já temos 244 pré-candidaturas a prefeito. O PMDB está passando por uma renovação e está atraindo uma enorme gama de partidos em busca de alianças. Aquela violência absurda contra professores registrada no dia 29 de abril trouxe, por um ângulo infeliz, a discussão política do Paraná para o restante do país. E isso nos coloca como uma alternativa fundamental.