Caso Luiz Abi leva oposição a insistir na CPI da Receita
Dificuldades para conseguir adesões e resistência governista na Alep, porém, travam a investigação
Texto publicado na edição impressa de 18 de março de 2015 da Gazeta do Povo
A prisão de Luiz Abi, primo do governador Beto Richa (PSDB), reacendeu na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) a tentativa da oposição de instalar uma CPI para investigar o suposto esquema de corrupção envolvendo auditores da Delegacia da Receita Estadual em Londrina.
A vida dos oposicionistas, porém, não será nada fácil. Além de terem dificuldades para conseguir o mínimo de assinaturas exigido, eles enfrentarão a resistência da ampla maioria governista, que já tem pelo menos cinco CPIs engatilhadas, com temas diversos, para travar o limite de comissões funcionando simultaneamente na Casa.
Apesar de Abi não ter sido mencionado pelo Ministério Público (MP) na investigação da Receita no Norte do estado, a oposição questiona se ele não seria o “lastro político” que impedia o desmonte do esquema ou a remoção dos suspeitos para outras delegacias do Fisco. Ao Jornal de Londrina , o ex-secretário da Fazenda Luiz Carlos Hauly disse que a equipe técnica que montou à frente da pasta, entre 2011 e 2013, “teve que conviver com a política”.
“Quem são estes senhores que garantem ao grupo de Londrina tanta força? Os registros da imprensa não deixam mentir que Luiz Abi é uma figura muito importante e com ligações políticas muito fortes com o governador”, disse o vice-líder da oposição, Requião Filho (PMDB).
O parlamentar cobrou dos colegas que ouçam a voz das ruas e assinem a CPI para investigar o caso. Até o momento, o grupo tem apenas sete das 18 assinaturas necessárias para tirar a comissão do papel – os seis oposicionistas mais Tercílio Turini (PPS).
Por ora, a bancada governista não demonstra preocupação em que mais deputados assinem o pedido de CPI. “Eles estão misturando fatos, fazendo ilações de realidades muito distantes. Os envolvidos devem prestar seus esclarecimentos, mas ninguém pode ser acusado sem provas ou comprometer o governador nessa investigação”, rebateu o líder do governo, Luiz Claudio Romanelli (PMDB).
Nos bastidores, entretanto, a base aliada considera impossível controlar os parlamentares se, em algum momento, o nome de Abi for vinculado ao caso da Receita.
Manobra governista
Por precaução, os deputados aliados a Richa se anteciparam e já têm assinaturas suficientes para protocolar pedidos de instalação de ao menos cinco CPIs “laranjas”, número máximo de comissões que podem funcionar ao mesmo tempo na Assembleia. Entre os temas a serem “investigados”, estão a explosão de caixas eletrônicos, irregularidades na Refinaria Repar, em Araucária, e questões fundiárias em Pontal do Paraná.
Com escândalo e “pacotaço”, clima é tenso na Assembleia
O clima na Assembleia Legislativa do Paraná nunca esteve tão pesado. Há quem considere que o momento vivido pela Casa é o pior de sua história sob dois aspectos: no dia a dia interno dos deputados e no relacionamento com o Executivo.
A situação se agrava na medida em que 21 parlamentares exercem o primeiro mandato e demonstram estar sob forte pressão dos seus eleitores.
Segundo um deputado da base aliada, nem mesmo em meio à divulgação das reportagens da série Diários Secretos o clima esteve tão ruim. “Naquela situação, a pressão existia apenas daqui para fora, pela imprensa. Internamente, os parlamentares estavam unidos”, afirma. “Você viu algum deputado se levantar contra o Nelson Justus agora, com essa nova onda de denúncias contra ele?”
Dessa vez, porém, a paz dos deputados deixou de existir desde a frustrada tentativa de votarem o “pacotaço” do governo do estado há um mês e meio. Alguns parlamentares da base governista já se referem ironicamente a si mesmos como a “bancada do camburão”, em alusão aos 33 deputados que chegaram à Assembleia num ônibus de choque em meio aos protestos dos servidores estaduais.
Desde então, com o Executivo no olho do furacão, a relação com o Palácio Iguaçu tem se deteriorado dia após dia. “O Beto [Richa] tem 2 meses e 20 dias de governo, mas parece que faz dois anos”, diz um deputado aliado. De acordo com ele, como o tucano não disputará a reeleição, a situação está fugindo do controle, na medida em que “ninguém mais liga para ele [Richa]”. “Para piorar, agora tem essa história do Luiz Abi”, lamenta. (ELG)