O novo MDB de guerra
MDB sai na frente e prepara o partido para as eleições municipais de 2020
As eleições de 2018 colocaram em xeque os partidos e os atores da política brasileira. Surgiram novas lideranças, algumas não tão novas assim, e trouxeram um efeito similar ao que Fernando Collor provocou em 1989 com o inexpressivo PRN, que sucumbiu e sumiu assim como a fugaz passagem de Collor no Palácio do Planalto. Jair Bolsonaro e seu PSL vão resistir às adversidades que a real politik impõe? Poucos apostam, mas muitos torcem para que a história se repita.
No Paraná, o efeito Bolsonaro e a polarização da campanha nacional privilegiaram Ratinho Junior (PSD) e uma penca de candidatos soldado, cabo, sargento, tenente, coronel e delegado. Partidos protagonistas e antagonistas de outrora ‒ PSDB, MDB e PT ‒ se tornaram meros coadjuvantes desta eleição. As urnas apontaram para esse quadro e as velhas e novas raposas da política precisam agora se reinventar.
São essas tentativas que abrem o ano da graça de 2019. Os novos atores tentando fincar o pé em um novo ‘estilo’ de governança ‒ quem conhece a história sabe que não tão novos assim os discursos de mudanças, enxugamento da máquina, austeridade, cortes de despesas e custos e o uso racional do dinheiro do povo.
Missão
É nessa esteira que o MDB ‒ até pouco tempo, PMDB ‒ abriu os trabalhos de 2019. Elegeu um novo diretório estadual, uma nova executiva e um novo presidente, o ex-deputado João Arruda, que se despediu do Congresso Nacional no último dia 31 de janeiro. A missão de João Arruda é resgatar o velho MDB de guerra que elegeu oito governadores (vices também assumiram) nos últimos 36 anos desde a retomada democrática em 1982.
O novo presidente do MDB no Paraná tem a responsabilidade de suceder o mais importante e controverso líder que o partido já teve no estado, nada menos do que Roberto Requião (uma vez deputado estadual, uma vez prefeito de Curitiba, três vezes governador e duas vezes senador). Não bastasse o peso do antecessor, o novo presidente ainda é sobrinho do homem.
Quem conhece bem João Arruda, sabe que ele tira de letra tudo isso. Quem não conhece tão bem, basta lembrar que o deputado federal largou uma segunda reeleição dita tranquila, por uma improvável candidatura a governador. Lançado a três dias do prazo final das convenções, substituiu na oposição o papel do desistente Osmar Dias (PDT).
Saiu bem atrás nas pesquisas e partiu com tanta gana para cima do líder Ratinho Júnior que quase suplanta a máquina e o poder da governadora Cida Borghetti (PP) e do deputado Ricardo Barros (PP) no segundo lugar.
Mas isso já é história. O presente é o comando do MDB e a missão de recolocar o partido na linha de frente da política paranaense.
Unidade
João Arruda tem um plano. O primeiro passo foi unir os diferentes grupos do partido, alguns que estavam afastados por divergências com Requião, outros até que apoiaram os governos Beto Richa e/ou Cida Borghetti e, até, quem esteve no palanque de Ratinho Junior contra ele.
Conseguiu e garantiu sua eleição em chapa única que também reúne novas lideranças do MDB que estiveram ao seu lado na intensa campanha ao governo. A executiva do partido conta com os aguerridos deputados estaduais Anibellli Neto e Requião Filho, mas contempla todos os grupos, inclusive do ex-presidente Renato Adur, que esteve no palanque de Ratinho. Requião também está lá, na condição que pediu, como vogal, “apenas para dar uns palpites”, como disse na convenção.
“Todos os grupos e setores têm espaço no diretório e estão representados na executiva do partido. A unidade é importante porque o MDB tem uma história de lutas, de bons governos e de uma força política identificada e com vínculos fortes em todas as cidades do Paraná”, diz João Arruda.
O segundo passo vem agora. João Arruda quer reorganizar o partido que já chegou a ter diretórios eleitos nos 399 municípios do Paraná, feito único entre os partidos no Estado.
A realidade atual é bem outra: “Temos mais de 150 diretórios que estão inativos e muitos diretórios com pendências de documentos, que é preciso sanar, para que, no final de 2019, tenhamos 399 diretórios municipais organizados e preparados para lançar candidatos para prefeito e vereador”, disse Arruda logo após sua eleição.
Candidatos
Apesar das carências na organização partidária, o MDB continua forte politicamente. “Temos 70 prefeitos, diversos vice-prefeitos e centenas de vereadores”, diz João Arruda, que vai comandar o partido até 2020, ano das eleições. O partido, garante o novo presidente, vai ter candidatos a prefeito nas principais e na maioria das cidades paranaenses.
O MDB também se prepara para a primeira eleição sem coligação proporcional, ou seja, em que as chapas de vereadores terão de ser de um único partido. A mudança deve favorecer os maiores partidos de cada uma das cidades, o que favorece o MDB em muitos municípios.
“Fazer com que 2020 seja o caminho para fortalecimento e a meta seja 2022. Eleger prefeitos e vereadores comprometidos, chamar pessoas que queiram participar da renovação política no estado com propostas e ideias. Entendemos que o que foi proposto pelo partido em 2018 foi importante, isso não morre. Esse debate precisa evoluir, mas agora com mais força em relação às necessidades municipais”, diz João Arruda.
“Com a atual base de 70 prefeitos, vamos incentivar o lançamento de candidaturas próprias em todos os municípios, principalmente nas grandes cidades”, afirma Arruda.
Diretórios
De acordo com o presidente, a nova direção do partido vai percorrer o Paraná na organização dos diretórios municipais ao mesmo tempo em que elabora programas para as cidades com base nas experiências bem-sucedidas do MDB e em novos conceitos de governança. “Nós precisamos reorganizar o partido no Paraná. E em nível nacional, exatamente pelo que vivemos na última eleição, que foi muito nacionalizada, é preciso também fazermos uma reestruturação”, defende.
“O trabalho começa agora e o partido sai na frente porque já é organizado em setores como a juventude, trabalhista, mulheres, entre outros núcleos formados na base da sociedade”, afirma João.
O deputado faz questão de destacar ainda que a força política do MDB está representada nas cidades com prefeitos, vice-prefeitos e vereadores do partido. “Contamos desde já com os 70 prefeitos e os vereadores que o partido elegeu em 2016. Isso será fundamental porque, em 2020, teremos candidatos na maioria das cidades paranaense. Eu tenho certeza de que o MDB vai liderar uma frente de prefeitos e vereadores que vão empunhar novamente os bons programas que marcaram os nossos governos”, completa.
“Partido é construção”
Segundo Arruda, o partido deve mudar sua postura. “Partido é construção. Não pode andar para trás. O resultado (das eleições) foi positivo diante de todas as dificuldades que enfrentamos. Me lançaram candidato três dias antes do prazo para o registro no Tribunal Eleitoral. Infelizmente, perdemos a minha vaga porque fui candidato a governador, um senador e um deputado estadual”.
“Agora, precisamos nos antecipar. Se queremos grandes bancadas, isso tem que se formar a partir de já, 2022 começa em 2019! O grande erro que cometemos foi deixar tudo para a última hora. Vamos corrigir isso”, explica Arruda.
Campanha
“Novos quadros, novos nomes. O MDB precisa, apesar de sua história, de sua trajetória em defesa da democracia que é muito bonita, nascer de novo, diria. Precisa recomeçar com novos nomes, com novas pessoas. Então, não é por este motivo que nós vamos nos afastar do partido”, afirma.
Em sua campanha a governador em 2018, João Arruda pôde conhecer com profundidade e propor políticas para o Estado e para as cidades. Seu programa de governo foi destaque no meio de campanhas milionárias por suas propostas de fortalecimento da gestão e políticas públicas voltadas à população que mais necessita.
“Disputei a eleição com projetos de qualidade e pautas sobre a educação pública, previdência, redução de impostos, do preço da água e luz, IPVA, segurança, saúde, entre outros temas”, diz.
“São bandeiras do MDB do Paraná que continuará vivo e se renovará a cada dia, através de um processo de reestruturação que já começou e ganhará mais força a partir do ano que vem. O resultado das urnas não invalida o debate permanente sobre o futuro, do qual fazemos e continuaremos fazendo parte”, completa o deputado.
Oposição e democracia
João Arruda disse que se tem que respeitar os resultados das urnas, que há muito ainda a ser feito pelo país, mas que também pode discordar das opiniões e ações dos novos mandatários. “Há muitos anos, defendo a renovação do sistema político que fortaleça a nossa representação e que seja eficiente na reconstrução do nosso país”.
“Isso não significa aceitar passivamente ou concordar com opiniões e atos dos novos eleitos. A combatividade faz parte do processo e ter uma posição contrária e de oposição às ideias significa o reforço da democracia”, defende.
Reestruturação
O MDB vai começar a sua reestruturação pelos diretórios municipais das cidades com mais de 100 mil habitantes. Entre as 20 cidades mais populosas do Estado, além de Curitiba, estão Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Cascavel, Foz do Iguaçu, São José dos Pinhais, Colombo, Guarapuava e Paranaguá. “Vamos convocar todos os diretórios a se organizar, ou vamos montar as comissões provisórias e realizar as convenções ainda no primeiro semestre deste ano. Faremos ainda uma avaliação dos resultados e do desempenho do partido nas últimas eleições. O MDB será, de novo, o partido mais representativo nas cidades do Paraná”, diz João Arruda.
A executiva estadual também vai organizar, para março ou abril, um fórum dos prefeitos do MDB para definir a pauta municipalista junto ao executivo federal e estadual. “Temos a experiência de administrações exitosas que têm respaldo popular nas cidades. Há questões em comum nas prefeituras que vão da saúde, segurança pública e que passam também pelo transporte público, mobilidade urbana, entre outras. Os prefeitos do nosso partido vão organizar essa pauta municipalista que também servirá de base aos nossos candidatos nas próximas eleições municipais”, diz.
O partido também decidiu reforçar a chapa de vereadores para as próximas eleições. Com o fim da coligação partidária nas eleições proporcionais, o MDB avalia um bom cenário para o partido aumentar as bancadas nos legislativos municipais. “Vamos filiar novas lideranças por segmentos, jovens, professores, empresários e mostrar a importância das câmaras de vereadores na fiscalização dos usos de recursos pelas prefeituras e também como um espaço para discussão de assuntos pertinentes de cada cidade paranaense”, aponta João Arruda.
Na organização partidária, a executiva dividiu o Estado em 19 regionais que terão coordenadores que “vão ajudar na reestruturação do partido”. “Além da organização e da parte legal, vamos dispor aos diretórios todo suporte técnico para formação de redes sociais, cadastros, listas, entre outras inovações. Os coordenadores vão nos ajudar nesta reestruturação de cada uma das 19 regionais no Estado”, adianta o deputado.
Segundo ainda João Arruda, a reestruturação do partido vai culminar no congresso estadual que o MDB fará no mês de setembro. “Até lá, tudo estará organizado, diretórios, os setores do partido, a pauta municipalista, o conselho político, as novas filiações. A partir do congresso, o partido vai focar nas eleições municipais de 2020”, adianta.
Polêmica
João Arruda não escapa de polêmicas e diz que “problema financeiro” do partido “é grave” e que vai precisar “cortar gastos”. “O repasse do fundo partidário diminuiu pela metade e, portanto, o nosso orçamento não comporta mais a estrutura existente”, diz.
Para João Arruda, não se trata apenas da venda da sede estadual do partido, uma estrutura reformada há 15 anos e que “tem um alto custo de manutenção”. “O que se estuda é a possibilidade de mudança para uma nova e mais moderna sede que esteja adequada à realidade de hoje”.
“Temos um problema, precisamos resolver e vamos resolver. Não me interessa o culpado ou o responsável. Precisamos resolver o futuro. A decisão passa pela executiva estadual do MDB”, completa.