Vice-presidente Michel Temer assume articulação política do governo

SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) – O vice-presidente da República, Michel Temer, assumiu nesta terça-feira a articulação política do governo Dilma Rousseff, em substituição ao ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas, que deixa o cargo, em mais uma tentativa da presidente de melhorar a interlocução com o Legislativo.

Temer é presidente do PMDB, o maior partido da coalizão governista e o que mais tem dado dor de cabeça ao Executivo no Congresso Nacional. O PMDB já comanda a Câmara dos Deputados e o Senado Federal.

O anúncio de que as funções políticas e administrativas da Secretaria de Relações Institucionais serão incorporadas pela Vice-Presidência da República foi feito pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, após reunião de Dilma com líderes e presidentes de partidos da base aliada no Congresso.

“É uma solução que foi construída e que foi fortemente apoiada por todos os partidos e líderes que estavam presentes na reunião, disse Mercadante em entrevista coletiva.

“Todos reconhecem que é uma solução política que ajuda bastante na interlocução, no diálogo, nas pontes, no fortalecimento da base aliada no âmbito do Congresso Nacional, e mesmo na interlocução com outras forças políticas de oposição.”

Antes de colocar seu vice à frente da relação com o Legislativo, Dilma sondou na segunda-feira o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, também do PMDB, para assumir a SRI e cuidar da interlocução com os parlamentares.

A ida de Padilha para o novo posto dependia, no entanto, de uma negociação com o PMDB e com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e acabou não se concretizando.

De acordo com uma fonte com conhecimento das negociações, Padilha recusou assumir a SRI alegando motivos pessoais.

Mas o fato de Dilma, segundo a fonte, não ter consultado previamente Renan e Cunha sobre a escolha de Padilha contribuiu para o fracasso da mudança. A fonte lembrou ainda que Padilha ocupa a Aviação na cota de Temer, já que o PMDB da Câmara não quis patrocinar seu nome para o posto.

É frequente entre os peemedebistas a reclamação de que Dilma não inclui as lideranças do maior partido da base em sua tomada de decisões.

No Congresso, como era de se esperar, a ida de Temer para a articulação foi elogiada por petistas e criticada pela oposição.

Na avaliação do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o vice de Dilma é o homem certo para a função.

“Ninguém melhor para essa missão do que o ex-presidente desta Casa, que foi parlamentar por 25 anos e pode consolidar a nossa base e qualificar a relação do governo com o Congresso, inclusive dialogando com a oposição responsável”, disse.

Já para o líder da minoria na Casa, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), a mudança significa que Dilma “jogou a toalha”.

“O Brasil está assistindo a uma presidente da República que não conseguiu um brasileiro que topasse ser o seu ministro da articulação política”, disparou. “A presidente da República joga a toalha, diz ao Brasil que não tem capacidade de se relacionar com o Congresso Nacional.”

Esta é a quarta mudança no ministério promovida pela presidente Dilma neste seu segundo mandato. O ministro Mercadante não informou se Pepe Vargas será recolocado em alguma outra posição no Executivo ou se retorna à Câmara dos Deputados para exercer seu mandato pelo PT gaúcho.

PACTO PELA RESPONSABILIDADE FISCAL

Segundo Mercadante, uma das primeiras atribuições de Temer na nova função será reeditar com os líderes da base aliada um pacto pela responsabilidade fiscal. A reunião de Dilma com os aliados nesta terça serviria, originalmente, apenas para fazer um apelo para que a base ajude na aprovação das medidas de ajuste fiscal enviadas pelo governo ao Parlamento.

Mercadante, que até o momento vinha sendo apontado como um dos formuladores da articulação política com o Congresso, disse que os líderes da base têm a “compreensão” da necessidade do ajuste.

Ele disse ainda que os líderes aliados afirmaram que as medidas provisórias enviadas pelo governo e que restringem o acesso a benefícios previdenciários, parte das medidas de ajuste fiscal, serão aprovadas na forma “mais próxima” do que ele afirmou ser “o melhor para o país”.