LEIA O ARTIGO: O RISCO DE PARECER IGNORANTE POR IGNORAR A HISTÓRIA
Há algumas semanas, um sentimento cívico daqueles que os brasileiros só costumam demonstrar na Copa do Mundo, em jogos da Seleção da CBF, acometeu os moradores da Capital dos Pinheirais.
Nem uma final de campeonato brasileiro envolvendo a dupla AtleTiba, nem se cachorro quente prensado com duas vinas[1], fast-food típico da cidade, ganhasse versão internacional na rede Mc Donalds, seriam capazes de atingir tão profundamente o âmago do orgulho em ser Curitibano, como pertencer a uma República independente; temperada; de traços europeus; onde a justiça prevalece à revelia das leis. Doa a quem doer!
A onda de civismo surgiu em apoio às investigações da Operação Lava-Jato, realizadas pelo MP e julgadas pela Justiça Federal do Paraná. O fato transpôs a “nova Cidade-Estado” da condição secular de coadjuvante em assuntos jurídico-políticos nacionais, e escancarou tanto os problemas do sistema de financiamento eleitoral em vigência, quanto o modus-operandi de corruptos e corruptores. Até aí, tudo bem!
Eis que, investigado, o ex-presidente Lula é interceptado em conversa telefônica com a Presidente Dilma Rousseff. No bate-papo presidencial vazado à imprensa (não pretendo entrar no mérito da legalidade dos grampos nem da atual conjuntura política – tema para outro artigo) Lula afirma: “Eu estou assustado com a República de Curitiba[2]”. A frase tinha conotação pejorativa., mas ninguém entendeu.
Ignorando a comparação política e histórica, a população adotou a alcunha para si. Investidos por um sentimento quase ariano de superioridade, os Curitibanos passaram a querer mostrar ao mundo que sua polícia, seus promotores e sua Justiça, nem de longe se comparam às do restante do Brasil.
Nas redes sociais, diversos grupos, comunidades e páginas com centenas de milhares de participantes exortam a alegria em pertencer à República de Curitiba. Pelas ruas, camisetas e adesivos em alusão ao apelido jocoso são ostentados com orgulho pela população.
A moda ganhou o Congresso Nacional com Deputados Federais evocando a República Curitibana ao proferir seus votos a favor do impeachment. Até mesmo o filho do Governador do Paraná, este investigado por inúmeros crimes de Caixa 2, adotou o “apelido” para se referir à Cidade em seu perfil no twitter[3].
Ocorre que a República que o ex-presidente usou por analogia para se referir a Curitiba, distante de ser uma nação próspera, justa e evoluída da Europa, foi a República do Galeão, como ficou conhecida a Base Aérea de mesmo nome, em 1954, no Rio de Janeiro.
Na época, aparato da Aeronáutica foi utilizado naquela Base para interrogar, em tempo recorde, suspeitos do atentado da Rua Tonelero[4].
O intuito da operação, que contou com irrestrito apoio da mídia, controlada por Carlos Lacerda, era depor o então Presidente Getúlio Vargas, reconhecido por valorizar o trabalhador, instituir o salário mínimo, o décimo terceiro, a CLT. Com o suicídio de Vargas e consequente divulgação de sua carta-testamento[5], o objetivo não prosperou e obrigou Lacerda a deixar o País, adiando o golpe militar para 1964.
Estranhamente, as graves denúncias de corrupção que permeiam o Governo da outrora quinta comarca de São Paulo, não despertam tanto clamor na Cidade que se auto proclama República, fato curioso da personalidade bairrista de políticos de rabo felpudo e de eleitores desavisados da região.
E aí, Curitiba?! Será que realmente somos a nova República do Galeão?
Artigo colaborativo escrito por Requião Filho e Rafael Xavier.
Requião Filho é Deputado Estadual, advogado e presidente da Fundação Ulysses Guimarães no Paraná (FUG PR)
Rafael Xavier é coordenador de Formação Política do PMDB e membro do Conselho Fiscal da Fundação Ulysses Guimarães Nacional.
[1] http://www.dicionarioinformal.com.br/vina/
[2] http://oglobo.globo.com/brasil/lula-estou-assustado-com-republica-de-curitiba-18892920
[3] https://twitter.com/MarcelloRicha/status/721833433966714880?lang=pt
[4] https://pt.wikipedia.org/wiki/Atentado_da_rua_Tonelero
[5] http://www0.rio.rj.gov.br/memorialgetuliovargas/conteudo/expo8.html